23.9.08

O mundo cabe em um bonsai



• É possível imaginar árvores gigantes reduzidas a uns centímetros por homens que as "educam"?

POR ORTELIO GONZÀLEZ MARTÍNEX – especial para Granma Internacional

CIEGO DE ÁVILA.– O japonês Kyuzo Murata, um dos pais do bonsai moderno, andaria com gosto pela Galeria de Arte da cidade de Ciego de Ávila, a 420 quilômetros de Havana, onde há uns dias se reuniram os mais prestimosos bonsaistas cubanos, que participaram da 3a Convenção CubaBonsai 2005.


Ficus Retusa (loureiro), estilo floresta, com 14 anos. Grande Prêmio 2005 para o autor, Lorenzo Gonzalez Casuso

Uns trinta representantes de quase todas as províncias do país intercambiaram experiências a respeito desta arte viva, que percorre as criptas do espírito e apreende a quem se dedica a cultivá-la.

O mundo cabe num bonsai, se pode dizer. E quem assim pensa não lhe falta razão. Estas vidas diminutas, segundo definição, "plantas vivas, colocadas num vaso, sobre uma rocha ou planta, onde permanecem de forma quase perene".

"Não representam só a beleza natural de cada exemplar em questão, mas seu aspecto recorda algo mais: pode tratar-se de uma cena de um bosque, de uma parte deste, de uma majestosa árvore solitária, uma paisagem marinha, um lago, rio, um tanque..."

É o resultado de séculos de desenvolvimento e continua a evoluir.

Esta manifestação é o ponto de convergência de diversas disciplinas como a arte, a botânica e a filosofia, muito vinculadas entre si, sempre a caminho da perfeição.

E digo que o mundo cabe num bonsai porque penso na maquete da cidade de Havana, uma grande urbe reduzida a apenas 22 metros de comprimento por 10 de largura; ou no Monólogo do Bonsai, interpretado pelo artista Carlos Ruiz de la Tejera, que com fino humor político compara os países da América Latina com um pequeno jardim, onde os jardineiros pertencem ao FMI.


O bonsaista Jovany Borrego mostra ao público as características de um flamboaiã

Quanto à origem das árvores em miniatura, uma lenda chinesa sustenta que durante a dinastia Han (206 a.C – 220), um imperador mandou construir uma paisagem em seu quintal, que devia representar as montanhas, os rios, os vales e lagos de seu império. Depois se extasiava das janelas do palácio, como se tivesse o mundo a seus pés.

Mais para cá no tempo, em 1971, foram descobertos no gigante asiático os testemunhos mais antigos, na tumba do príncipe Zhang Huai, da dinastia Tang.

Segunda descreve a literatura, no ano 552 da nossa era, chega o budismo ao Japão e, com ele, as pequenas árvores. Assim, tudo o que provinha da cultura chinesa foi assimilado nas ilhas japonesas, até a arquitetura, a caligrafia, as cerimônias...

Apareceu até a peça teatral Hachi-no-ki (As árvores em vasos), uma das mais relevantes do mundo quanto a esse tema. A obra era baseada num conto popular muito arraigado no império do Sol Nascente.

A expressão filhos malcriados é uma definição "cubana, pois, há que dar a estes seres viventes todos os gostos se queremos que cresçam e se desenvolvam, desde a alimentação até a educação adequadas", disseram vários cultivadores interpelados por Granma Internacional durante a convenção.

Raciel Méndez Gómez, com 16 anos de experiência nesta arte, descreve que, até onde se sabe, os primeiros indícios apareceram em casa de um casal que vivia no povoado La Fé, na Ilha da Juventude. Diz que na década de 1970, seu amigo Enrique Cuenda observou as plantas, desaparecidas tempo depois da morte do casal. "Não se sabe o rumo que tiveram", assevera.

Outro testemunho narrado pelo próprio Raciel, dá conta de que em Santiago de Las Vegas, província de Havana, apareceu abundante literatura numa casa desabitada. Os livros foram parar com diversas pessoas, alguma das quais teriam iniciado o cultivo.

Cheia de mistérios e conjecturas, como a própria vida, é a história do Bonsai. Tanto assim que se sabe da existência de mais de 300 cultivadores em toda Cuba, cifra que cresce, com a incorporação de muitas outras que, até agora, permaneceram no anonimato.

Para o avilenho Dimitri Gómez González, presidente do Comitê Organizador da Convenção, que deu vida ao projeto nos últimos anos, o cultivo desta arte vivente poderia ser outra via de integração entre os povos no ano da Alternativa Bolivariana para as Américas. E informa: "A presidência da Federação Latino-americana do Bonsai está na Venezuela".

Alejandro Moya Valdés, um principiante, conseguiu seu primeiro exemplar depois de mais de quatro horas a cinzel e martelo. Talvez seja essa a razão pela qual pensa que, para ele, o fundamental na hora de cultivar e educar as plantas é a disciplina.

Os participantes do encontro me deram as melhores definições numa palavra. Cada qual resumiu o sentir: Espírito, disse Lorenzo González Casuso; Adição, Leonel Monzón García; Harmonia, Asley Hernández Sánchez; Paz, Jovany Borrego Mejías; Sentimento, Raciel Méndez Gómez; Tranqüilidade, Nancy Gutiérrez Gárciga; Espiritualidade, Jorge Guerra Pensado; Paixão, Leonardo Rodríguez Triana.

Sem pensar em monges, impérios, civilizações nômades e dinastias, os cultivadores cubanos têm sua própria história, a mesma que como o decurso do tempo, contarão outros para que não morra esta arte milenar.

fonte: http://www.granma.cu/portugues/2005/noviembre/vier18/48bonsai-p.html

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