O aborígine já conhecia e entendia de plantas venenosas, as quais também eram usadas para cura. Nas festas o homem americano utilizava-se de vegetais entorpecentes que davam momentos deleitáveis e o transformavam por vezes em clarividente ou médium. Os naturais do Amazonas conheciam e ensinavam ao imigrante as aplicações de muitíssimas plantas tóxicas, na terapêutica, porquê sabia que todas as plantas venenosas são medicinais e que o efeito depende unicamente da dose em que são ministradas. O índio também faz uso de várias plantas tóxicas de ação narcotizante como os Tinguís e os Timbós, que servem para capturar os peixes por asfixia. Os caboclos brasileiros usam as espécies do grupo dos timbós, sapindáceas e leguminosas para envenenar a água dos rios e assim matar peixes. Esse tipo de pesca, apesar de predatório, permite, com pouco esforço, resultados imediatos
dos mais compensadores.
Entre 1560 e 1580, o padre José de Anchieta detalhou melhor as plantas comestíveis e medicinais do Brasil em suas cartas ao Superior Geral da Companhia de Jesus. Anchieta relatou minuciosamente o processo da tinguijagem e o referido por ele está bem de acordo com os processos empregados no Amazonas e no Pará, para o envenenamento e entorpecimento dos peixes com as diferentes Sejanias das Sapindaceas, que são, aliás, os verdadeiros Timbós. Também Frei Vicente do Salvador conta de pescarias e explica o modo pela qual os índios matavam os peixes ou os embebedavam nas águas com a erva timbó" .
Spruce, nas suas longas e demoradas viagens ao Amazonas e Peru, depois de Humbolt e outros, relatou muito sobre essas plantas tóxicas, como a denominada Caapi que é a Banisteriopsis inebrians. Na companhia de outro naturalista, o francês Aimé Bonpland, Humboldt viajou entre 1799 e 1804 por vários países latinos (Venezuela, Cuba, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e México). Na sua jornada coletou material suficiente para escrever 30 volumes da monumental obra Voyage aux régions équinoxiales du nouveau continent, fait en 1799, 1800, 1801, 1802, 1803 et 1804. Nessa obra, descreve várias espécies de plantas brasileiras.
Fato que chamou a atenção do missionário Anchieta foi a utilização dos timbós pelos índios, especialmente da espécie Erythrina speciosa, Andr. O timbó, de acordo com o Aurélio, é uma "designação genérica para leguminosas e sapindáceas que induzem efeitos narcóticos nos peixes, e por isso são usadas para pescar. Maceradas, são lançadas na água, e logo os peixes começam a boiar, podendo facilmente ser apanhados à mão. Deixados na água, os peixes se recuperam, podendo ser comidos sem inconveniente em outra ocasião". O timbó teve seu princípio ativo isolado pela equipe do professor José Ribeiro do Valle. Antes do aparecimento do PHC e similares, o timbó era muito comercializado, até exportado em grande quantidade como inseticida, com a vantagem de que sendo capaz de degradar-se não traz conseqüências de acúmulo e deixa de ser tóxico. Muitos dos inseticidas utilizados atualmente são perigosos por não serem biodegradáveis, quer dizer, o organismo não se libera daquele tóxico e aparecem sintomas prejudiciais.
Sérgio Buarque de Holanda, em Caminhos e Fronteiras, escreve: "Se na caça e principalmente na lavoura, a técnica européia, introduzida com os primeiros colonos e posta a serviço dos métodos indígenas, teve como resultado tornar ainda mais nocivos esses métodos, dificilmente se poderá afirmar o mesmo com relação à pesca”. O emprego do pari, o recurso freqüente a ervas e cipós que entroviscam o peixe, foram certamente admitidos e de bom grado pelos primeiros, mas estes não dispunham de meios que os tornassem ainda mais nefastos. A verdade é que já no ano de 1591, os camaristas de São Paulo tentavam impedir a destruição inútil do peixe adotando uma resolução que deveria parecer radical para os costumes do tempo: proibiram terminantemente que, em todo o curso do tamanduateí, se fizessem pescarias com tingui, uma das planta ictitóxicas de que então se abusava.
Para tais resoluções teria contribuído, segundo todas as probabilidades alguma reminiscência de medidas regulamentares semelhantes que já em Portugal se opunham às pescarias feitas com materiais peçonhentos. Sobre os moradores primitivos de Piratininga
deveriam exercer, porém uma invencível sedução, esses métodos bárbaros, se não é muito exagerado àquilo que afirmou Anchieta, a saber, que o total de peixes graúdos assim obtidos, ultrapassava em muitos casos doze mil. De Portugal muitos colonos já viriam aptos a aceitar, sem relutância os rudes métodos de pescaria que encontraram praticados entre os gentios. O próprio costume de intoxicar peixes, sem prejuízo de quem os consome, não teria para eles, o sabor de uma estranha novidade. O tingui e o timbó eram simples réplicas americanas do barbasco, do travisco, da coca, da cal e de tantas outras substâncias peçonhentas de que no reino se fazia largo uso.
Fontes:
http://www.br500.futuro.usp.br/navegant/trabalhos/178/final/biologia.htm
http://www.ervasdositio.com.br/internas/historia_ervas/brasil.asp
Caminhos e fronteiras, Sérgio Buarque de Holanda, Livraria José Olímpio, pg 83;
Cientistas do Brasil, SBPC, 1998, página 248;
www.inventabrasil.net
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